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Quase quatro milhões de trabalhadores e trabalhadoras procuram e não encontram emprego há mais de dois anos

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O desemprego atua como uma lei do modo capitalista de produção que castiga impiedosamente a classe trabalhadora especialmente em tempos de crise econômica como a que o Brasil vive hoje, a despeito das Fake News difundidas pelo ministro Paulo Guedes e Jair Bolsonaro.

Em situações normais – e mesmo nas crises cíclicas do passado – em geral o desemprego era um fenômeno eventual, uma nuvem passageiro. O assalariado perdia um emprego hoje e encontrava outro em questão de dias.

A crise do mercado de trabalho hoje não é deste gênero. É muito mais grave. Parece dotada de caráter estrutural e decorre tanto das políticas neoliberais do governo quanto da introdução de novas tecnologias e métodos no processo de produção.

Desemprego de longa duração

Atualmente, seis milhões de desempregados no país estão sem trabalho há mais de um ano. Desses, são 3,8 milhões buscando vaga por mais de dois anos. Na pandemia, avançou a parcela dos que estão sem trabalho há muito tempo no Brasil, o chamado desemprego de longa duração.

A proporção dos que procuram ocupação há mais de dois anos subiu de 23,9% no primeiro trimestre de 2020 para 26,1% no segundo trimestre de 2021. O aumento foi ainda maior no grupo que está desempregado por um período entre um e dois anos: passou de 6,7% para 15,1%, considerando a mesma base de comparação.

Juntos, os dois grupos reúnem 41,2% dos 14,4 milhões de desempregados brasileiros do segundo trimestre de 2021. No início de 2020, eram 30,6% do total dos trabalhadores sem ocupação no país. Os números são de estudo feito com exclusividade para o jornal Valor pela consultoria IDados, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Círculo vicioso

O desemprego evolui para um círculo vicioso, em que diariamente constata-se a redução da possibilidade de encontrar nova ocupação em contraposição ao aumento das dificuldades de sobrevivência familiar.

“O que se vê é um aumento da parcela dos que estão desempregados há muito tempo. E quanto mais tempo no desemprego, é mais tempo sem renda e mais prejuízos para a família. Além disso, fica cada vez mais difícil voltar ao mercado”, afirma o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisador do IDados, Bruno Ottoni.

Quanto mais tempo fora do mercado de trabalho, maior é o risco de perda de habilidades e desatualização dos profissionais, o que acaba gerando uma desigualdade entre os que buscam trabalho, de acordo com os prazos do desemprego, segundo Ottoni.

Mas ao exército de desempregados que continuam procurando ocupação é necessário acrescentar os chamados desalentados, que depois de anos perambulando pelas ruas atrás de um posto de trabalho perderam a esperança e desistiram de continuar procurando. São cerca de 6 milhões, segundo o IBGE, o que eleva o número total de desempregados no Brasil a mais de 20 milhões.

Com informações do Valor

CTB