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Pesquisadores da USP sobre Bolsonaro na pandemia: ‘História lamentável’

Imagem: Reprodução/Facebook

São Paulo – Artigo assinado por pesquisadores da área médica da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista científica The Lancet expõe a desastrosa condução da pandemia de covid-19 pelo governo Bolsonaro. O texto é intitulado “Tratamento precoce e kit covid: a lamentável história do combate à pandemia no Brasil“. Além de apontar para os desmandos e o negacionismo do presidente e da cúpula do governo, os cientistas também criticam o Conselho Federal de Medicina (CFM) por partilhar com Bolsonaro a postura anticientífica frente ao surto.

“Desde o início da pandemia houve um desestímulo do governo federal brasileiro a intervenções como uso de máscara, distanciamento social e vacinação. Em contrapartida, outras ações passaram a disseminar o uso dessas drogas, que faziam parte de um kit para combater a covid-19”, destaca o artigo, que foi tema de matéria no Jornal da USP. Assinam o texto o médico cardiologista do Instituto do Coração (Incor) e professor da USP Bruno Caramelli e o pesquisador da universidade nas áreas de neurofisiologia e reabilitação Leonardo Furlan.

“Foi também nessa mesma época que o Conselho Federal de Medicina do Brasil emitiu uma nota autorizando a prescrição de hidroxicloroquina para casos de covid-19, inclusive já no início dos sintomas (tratamento precoce), e o Ministério da Saúde publicou um protocolo orientando o uso de hidroxicloroquina e azitromicina em pacientes com covid-19 não hospitalizados. Isso tudo ocorreu mesmo diante da ausência de evidências científicas que demonstrassem a eficácia e a segurança dessas drogas contra a covid-19”, apontam os pesquisadores.

Vidas abaixo de tudo

Os cientistas afirmam que “o ‘kit covid’ tem sido promovido e prescrito no Brasil com base em evidências anedóticas, experiências e opiniões pessoais, estudos in vitro com dosagens de medicamentos excedendo os limites de segurança em humanos, estudos clínicos de baixa qualidade metodológica, revisões sistemáticas com metanálises sem qualquer credibilidade, ideologia política e a chamada ‘autonomia médica’”.

Como resultado do desgoverno Bolsonaro ante a pandemia, o Brasil alcançou mortalidade 4,4 vezes superior à média global. É o país com mais mortes por covid-19 em todo o mundo em 2021. Desde o início da pandemia, em março de 2020, só fica atrás dos Estados Unidos; que contam com 700 mil mortes e população 50% maior. Entretanto, os pesquisadores lembram que Brasil e Estados Unidos estarem no topo do triste ranking não é coincidência. “Mesmo sendo reprovado pela comunidade científica, o uso off-label de drogas como a hidroxicloroquina e a ivermectina passou a ser adotado em larga escala em diferentes países, inclusive nos Estados Unidos e no Brasil, especialmente depois de serem promovidas pelos presidentes dos dois países, Donald Trump e Jair Bolsonaro”.

Balanço da pandemia

Nesta terça-feira (19), o Brasil registrou 390 mortes nas últimas 24 horas, totalizando 603.855 vítimas desde o início da pandemia. Também foram reportados 12.969 novas infecções. Desde março, ao menos 21.664.879 brasileiros foram infectados pelo vírus.

Sem levar em conta ampla subnotificação. Isso, porque o governo federal não realizou testes em massa ou controles epidemiológicos. Logo, existem inconsistências nos números oficiais, divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Embora os patamares sigam elevados, a situação é mais confortável com o avanço da vacinação. Mais de 52% dos brasileiros estão imunizados com duas doses e 77,76% iniciou a primeira etapa da imunização.

Rede Brasil Atual